Um em cada quatro jovens, em Portugal, é vítima de violência nas relações de namoro.Um estudo realizado pela Universidade do Minho revela que os comportamentos agressivos são muitas vezes aceitos como "naturais" ou “provas de amor” e por isso são frequentemente "desculpabilizados".
O MITO
“Se é ciumento/a é porque me ama.”
“Uma bofetada ou um insulto não são violência.”
A REALIDADE
“O ciúmes serve de desculpa para controlar a vítima.”
“Qualquer ato de agressão é violência: o mesmo sucede com a violência emocional e sexual."
"Nenhum tipo de violência é aceitável.”
Neste tema, há os seguintes links interessantes e de Portugal, o último é uma Campanha contra a Violência e os demais reportagens sobre o tema:
http://tv1.rtp.pt/noticias/?t=Violencia-no-namoro.rtp&headline=20&visual=9&article=175555&tm=8
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Parabéns aos alunos de filosofia que fizeram o vídeo abaixo:
O namoro está habitualmente associado a uma fase romântica da vida. No entanto, em Portugal, está também ligado, em muitos casos, à violência.
Engana-se quem pensa que a violência nas relações íntimas é coisa de casamento, com o homem a subjugar a mulher. As novas gerações provam o contrário e começam a agredir-se mutuamente já na adolescência. Chegam ao ponto de insultar, ameaçar e até esbofetear, o que constitui um alerta de risco para a violência marital.
Existe tanta violência no namoro como no casamento: 25% dos jovens já foram vítimas. Os mais novos começam a agredir-se cada vez mais cedo. E o maior problema, é que a maioria encara com normalidade que dois namorados se agridam. O que acontece é que os adolescentes, embora reprovem a violência em abstrato, depois encontram justificações e desculpam a violência em situações específicas, como os ciúmes ou a infidelidade.
Por violência não se entende apenas murros e pontapés. “A violência mais comum é a emocional (insultos, humilhações, ameaças, tentativas de controle) e a pequena violência física (bofetadas, empurrões)”.
No namoro as agressões são mútuas e a vítima interpreta esses atos "erradamente" como sendo de ciúme, minimizando o episódio, e crê que, com o casamento, as coisas vão mudar. Mas isso nem sempre é verdade e geralmente, a violência intensifica-se.
Algumas mulheres acabam por sofrer tanto como as que já estão casadas, diferenciando-se apenas pela inexistência do vínculo do matrimônio e de filhos. Mas a ocorrência da violência no namoro deveria representar "um sinal de alarme" para as mulheres.
Tal como no casamento, também no namoro "o medo da mulher é um aliado do agressor". O receio de perseguições e retaliações acaba por levá-la a render-se ao domínio do namorado, o que muitas vezes a impede de reagir mais cedo.
Fonte: Criminalidade - Violência no namoro
O pior é quando o(a) namorado(a) ou “ex” esbraveja para os quatro ventos aquele segredo íntimo ou então desmoraliza a pessoa na frente dos amigos ou em sites de relacionamento. Em muitos casos, de tão banalizada a violência, um empurrão, um tapa, um puxão de cabelo é visto como atitude normal. Mas uma relação cheia de situações difíceis, brigas e humilhações costuma deixar marcas no adolescente. Quem vivencia um namoro que acabou mal poderá ter um forte desânimo de apostar em um novo relacionamento, se isolar, cair na depressão.
Segundo uma pesquisa feita pelo Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde (Claves/Ensp/Fiocruz) em 2009, as agressões verbais entre casais de adolescentes são mais comuns que as físicas. Os resultados apontam ainda que nove em cada dez adolescentes já sofreram ou praticaram algum tipo de violência contra o parceiro, tanto os meninos como as meninas.
Como os adultos:
O ciúme é, na maioria das vezes, desculpa para agressões. Questionada se já tinha brigado com algum namorado ou “ficante”, Ana Carolina*, de 14 anos, conta: “Quando a gente passava, ela ficava olhando e dava em cima dele. Um dia eu peguei os dois no ‘flagra’ e bati nela”.
Em muitos casos, um dos dois não aceita o término do namoro e tem uma reação exagerada de ciúme, persegue o parceiro, faz ameaças pelo celular, fala mal pela internet. Este comportamento está tão naturalizado que nem sempre é percebido como violência. As formas de humilhar e agredir são bem parecidas com as usadas por casais adultos, mas tendem a ser vistas com um tom de inocência ou brincadeira.
Presenciar cenas de violência doméstica como as vivenciadas por Jonas*, de 13 anos, também podem influenciar na forma de o adolescente se relacionar. “Fui à casa do meu colega e enquanto estávamos no quarto dele, a mãe e o pai dele estavam brigando. Quando desci para ir embora, vi que a mãe estava apanhando”. Outra experiência de violência é enfrentada por Cleber*, de 12 anos: “Quando minha mãe briga com meu pai, joga os pratos, as panelas, joga tudo”.
Exagerar nas bebidas alcoólicas em festas, mesmo quando não se tem idade para beber, é um fator agravante. A bebida, além de provocar um comportamento mais solto e exibido, pode levar a pessoa a passar dos limites e gerar agressão física e sexual, como puxar o cabelo ou beijar a força. “É uma cultura de violência que hoje está instalada na sociedade e que muitas vezes é incorporada nas relações. Ou vem também por vivência de violência na família, ou por conta de uma exposição maior ao uso de drogas, como o álcool, que pode potencializar formas de violência” diz a pesquisadora Kathie Njaine, do Claves/ENSP/Fiocruz.
‘Posso porque sou homem’
"O machismo ainda é muito internalizado na educação dos jovens, seja pela sociedade ou pelos próprios pais. Às vezes as próprias meninas falam mal de outra menina, dizendo que ela aprontou e mereceu levar o tapa na cara”, afirma Kathie Njaine. O discurso de defender a honra porque foi traído e partir para a agressão permanece muito forte e é defendido abertamente em algumas regiões. “Nas cidades maiores, com grande diversidade e uma liberdade maior de escolhas, ele não fica tão evidenciado. Isto não quer dizer que não esteja internalizado no pensamento do menino”, acrescenta a pesquisadora.
Muitos jovens, no entanto, criticam o comportamento agressivo entre os casais de adolescentes. Eles evitam o envolvimento com pessoas agressivas e se recusam a achar natural esse tipo de violência. “Eu acho horrível homem bater em mulher. Mas também acho errado a mulher ficar brigando com homem. É feio tanto para um quanto para o outro”, diz Diana*, de 15 anos.
Os pais, a escola ou os profissionais de saúde precisam estar abertos para conversar com quem esteja exposto à violência, ajudando o adolescente a sair da situação e a superá-la. “A gente é uma sociedade muito surda. O jovem tem que achar um canal aberto para poder falar”, observa Kathie.
* Para evitar constrangimentos, os nomes dos adolescentes foram trocados. Os entrevistados não participaram da pesquisa.
(Rovena Rosa)
Fonte: FioJovem(Fundação FioCruz)- Violência no namoro (09/09/2010)
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